A minha filha está crescida. Cada vez está mais crescida. Noto também pela quantidade de parvoíces a menos que tem feito. O discurso é diferente, a linguagem é gira e as preocupações são outras. Gosta de ficar sozinha no quarto dela e por incrível que pareça até nem é para pintar paredes, espalhar cremes no chão e despejar frascos de perfume. Aprendeu a ver as horas na manhã do ultimo sábado e a educadora, que é a pessoa mais fantástica do mundo e ela ama de paixão, diz que a loura de olho azul parece uma adulta. Enfim.....coisas boas que só acontecem quando se tem cinco anos e meio.
E depois também acontecem outras que é descobrir que afinal ainda se precisa de andar de olho tapado mais uns tempos até à cirurgia que deverá ser lá para fevereiro. Ontem, quando saiu da consulta de oftalmologia com o pai, esperou que a médica não visse e chorou uma hora seguida, tal não foi o choque e a desilusão. Depois, chegou a casa, encontrou o colinho da mãe e a coisa acalmou. Expliquei-lhe que as coisas não são sempre como queremos, todas as pessoas têm e precisam de fazer coisas que não gostam muito, desde que seja sempre para melhor. Podem ser adultos ou crianças, bebés ou velhinhos, a vida é mesmo assim. E ela, a minha filha que é a minha vida e o ar que respiro todos os dias, ao jantar já estava convencida da obrigação e necessidade daquela coisa horrível que a médica dos olhos (que ela não gosta tanto como a Dr.ª Ana fofinha, a pediatra, porque será?!) a mandou fazer (pessoa malvada, pá!!). E o monólogo foi assim, com ar enfadonho e resignado, de quem não tem a mínima hipótese:
-Ó mãe, confia em mim, isto dói demasiado para uma criança. É uma seca, fogo! Já percebi que quanto mais adultos somos menos ralham connosco. Quem me dera já não ser criança.
(E depois, para rematar a coisa, aplicou uma que já tinha servido uns dias antes quando a sopa do jantar não agradava)
-Estou chateadíssima com isto. A minha vida já não é o que era...
Pois é meu amor, aguenta que, com muita probabilidade, a tendência vai ser piorar!! Pensámos os dois, eu e o pai, a olhar um para o outro com ar orgulhoso de quem queria rir mas não devia, dado a dimensão e importância dos desabafos. Que ficaram por ali porque a seguir já estava a negociar comigo para saber quantas garfadas ainda tinha que enfardar e qual a fruta que ainda tinha que comer, tudo para poder lamber-se com um ovinho minúsculo de chocolate como sobremesa. Tudo em ordem, portanto. Que coisa boa.
Bjs, mãe