Hoje é um dia que eu não gosto. Faz sete anos que me incumbiram de transmitir à família que a minha avó tinha falecido, que me perguntaram quais eram as flores, qual era a urna, a que horas, quando, onde, o que é que eu achava? Sabia lá eu! Sou a mais velha dos netos, é verdade, mas naquele momento só queria mesmo era que ela estivesse ali comigo, a ralhar, a resmungar, a fazer o jantar, a ver televisão, a rir, a chorar, a fazer qualquer coisa, desde que estivesse ali. Nunca desejei tanto que ela estivesse ali como naquela maldita noite. Mas ela não estava, nem nunca mais esteve. E era tão bom que ela ainda estivesse. Ela, que apesar da dureza, da pouca tendência aos afetos, do aspeto frágil, era uma verdadeira heroína, uma autêntica fortaleza que foi bombardeada durante largas décadas. Aguentou quase tudo: desgostos, sofrimentos, falta de sorte, falta de dinheiro, falta de saúde. E sobreviveu a quase tudo. A minha avó morreu há sete anos e eu, todos os dias sei, que seria tudo tão diferente se ela cá estivesse. E queria tanto que ela cá estivesse para a poder ver. Eu, que tenho uma filha que nunca a conheceu mas que tem esse privilégio. Farta-se de a ver, fala e sonha com ela. A primeira vez tinha pouco mais de um ano, a última foi há umas semanas. Um dia avó, ainda me vais explicar como, ainda me vais explicar porquê.
Até lá continua, por favor, a proteger-nos, que bem precisamos.
Bjs, mãe
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