Como era bom que tivessem todas as mesmas oportunidades, o mesmo amor, a mesma alegria e a mesma atenção.
Nós, que um dia também já fomos crianças, sabemos agora que éramos muito felizes e por razões tão simples. E isto acontecia sempre, mesmo que as coisas não fossem bem como queríamos: mesmo que tivéssemos uma irmã chata e cheia de mau feitio, uns pais que passavam a vida a discutir, uns avós que ralhavam, qua não davam muitos beijinhos mas nos faziam o almoço quando vínhamos da escola, uns senhores que moravam por cima e que batiam com o pau da vassoura no chão para as irmãs se calarem, ou então esses mesmos senhores, que são também nossos pais, que nos criaram sentadas em cima de "esterco", a comer ervas, terra e tudo o mais que se possa imaginar e que existe no campo, que nos punham a cavalo na Nóia, uma serra da estrela que era da familia, uns primos com quem brincávamos, que moravam mesmo em frente, mas onde a coisa às vezes não corria lá muito bem, uma vizinha que nos levava a andar de "scuter", a apanhar amoras e ameixas, a saltar muros e que depois se matou, uma professora primária que tinha uma régua de madeira com 1 cm de espessura, uns colegas de escola que se foram mantendo, outros que nem por isso e outra que morreu porque adorava andar a cavalo, um tio que passou a nossa infância preso e a fazer tantas coisas que não devia, outros vizinhos com quem faziamos limonada e pregadeiras com rolhas de garrafas para depois vender, estradas sem perigo onde jogávamos à bola, andávamos de bicicleta e de carrinhos de rolamento sem correr grande risco de nos passar um carro por cima, e tantas, mas tantas outras coisas que não caberiam aqui.
Nós, que agora somos adultos cheios de responsabilidades e preocupações, muitas vezes temos mais dificuldade em sermos felizes, também porque as coisas não correm sempre como queremos. Lidamos com isso de outra forma, já não somos crianças, mas não faz nada mal sermos de vez em quando. E também não faz nada mal continuarmos a ser felizes por pequenas coisas: termos a irmã que agora não é tão chata, que é mesmo indispensável e que não imaginava não ter, mas que continua com mau feitio, termos os primos, os vizinhos e a grande parte da familia, termos os pais que já não discutem tanto, termos os mesmos colegas com que jantamos de vez em quando, termos novos amigos, termos saúde, termos filhos, que é a melhor coisa do mundo.
Feliz dia da criança a todas as que foram, as que são e as que serão. A todas as que querem e não podem, a todas as que podem e não querem, a todas as que não são e que podem ser, a qualquer hora, a qualquer instante, a qualquer momento.
Bjs, mãe
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