A minha manhã de hoje foi mais calma que o habitual, e quando assim é, existe sempre mais tempo para estarmos atentos a outras coisas que, habitualmente, não estamos. Por isso, vou contar-vos uma história que ouvi, e que mais do que ler, gostava que sentissem, que refletissem, que se emocionassem, que depois de a lerem fechassem os olhos e a recontassem.
IMAGINEM um homen e uma mulher que, como quaisquer outros, namoraram, casaram, construiram uma casa, uma vida e uma família. IMAGINEM que o homem era Guarda Nacional Republicano, com emprego estável, a mulher também, por isso, tiveram dois filhos. Um menino primeiro, uma menina depois.
IMAGINEM que o menino fica doente, e que essa doença se chama leucemia. IMAGINEM agora que ele, ao contrário de muitos, não conseguiu. IMAGINEM o pai e a mãe, que deixaram de sentir o seu cheiro, o seu calor, o seu abraço, que deixaram de ver o seu sorriso, que deixaram de lhe poder tocar, que deixaram de o ter.
IMAGINEM que agora foi a mãe que ficou doente, que todos acharam que fosse uma depressão profunda, mas que na realidade eram pequenos Acidentes Vasculares Cerebrais simultâneos e frequentes. IMAGINEM que a mãe, por causa disso, ficou numa cadeira de rodas, dependente total, sem reagir, sem comunicar a não ser pelas lágrimas.
IMAGINEM então o pai, que no seu desespero, sem ajudas e alternativas, deixou o emprego para cuidar da mãe.
E a menina, IMAGINEM a menina, que ainda é pequena e que perdeu um irmão, agora não consegue entender porque é que a mãe está assim, o que lhe fizeram. Não quer vê-la, não aceita, não quer ir à escola, sofre demais, chora demais, pergunta sempre ao pai porque é que a mãe não pode ir ter com os médicos.
IMAGINEM outra vez o pai, que chora compulsivamente até que as palavras são quase incompreensíveis, mas entende-se que só quer pedir que o ajudem, que cuidem da mulher, para que possa não perder a filha, a outra filha.
IMAGINEM um amigo do pai, que assiste a este sufoco diário e que decidiu pedir ajuda encarecidamente porque acha que ele não vai aguentar, porque está à beira da loucura, porque as palavras já não saem e a comida já não entra, porque o inferno já é insignificante comparado com a dor, com a incapacidade, com o ressentimento, com a impotência, com a revolta, com a angústia, com o medo, com o abismo......
Agora fechem os olhos......recontem a história e depois......IMAGINEM se acontecesse convosco:-(
Para descansá-los......a ajuda chegou.
Bjs, mãe